segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Abraço consolador

  Antes mesmo da tosse com sangue. Antes mesmo do corpo ficar cansado sem motivos aparentes Ellen sentiu a morte caminhando em sua direção enquanto segurava uma foice. Um espírito que a espiava dia e noite na porta do quarto. Ela chegava a ouvir os passos de madrugada e ficava aterrorizada, então acordava seu marido para ver o que era e no fim nunca encontrava nada. 

  Dia a dia foi definhando, encolhendo feito um feto, como se pudesse voltar para a barriga da sua mãe falecida. Entregou-se à uma tristeza profunda, garras afiadas a rasgavam lentamente. Dizia ao seu marido que sentia que iria morrer e ele a abraçava a contradizendo:

— Você vai morrer, só que bem velhinha! 

   Os olhos de Ellen enchiam-se de lágrimas, catarros saíam pelo seu nariz e uma tosse violenta a dominavam até ela vomitar mais e mais catarro com sangue. 

   Sem coragem de ir ao médico esperava ansiosamente lá no fundo que se curasse como por um milagre. Não, não devia está tão doente assim. Mas a entidade vestida com seu capuz preto fazia guarda sem cessar. Ela lembrou da sua mãe acordada a noite toda quando adoecia criancinha e chorou baixinho pedindo para que pudesse novamente voltar aos braços de sua progenitora. 

  Certa vez um pensamento veio a consolar: quando morresse iria ficar lado a lado da sua mãe, tão pertinho que poderia outra vez ser a sua criança, talvez fosse só um chamado para o céu ou seja lá que o for que exista. Os olhos foram fechando imaginando tudo isso e finalmente foi abraçada, mas não pela sua progenitora. 

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