segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Assombro


O assombro emerge de 

nossos estômagos vazios 

parece fácil enxergar de fora

difícil sentir de dentro


O arrepio cobre os braços 

finos

encolhe a mente a andar 

mirando o chão 


Essas árvores esmorecidas

mesmo ameaçadas 

tocam com as pontas 

das folhas os céus 


O verde musgo junto do azul abraçados

apesar disso não se confundem 

sabem quem são 

e tem dias que nós não sabemos


Nos afogamos ansiosos 

no mesmo modo de repetição:

come, dorme, caga, mija,

estuda, cuida da casa e trabalha


O diabo inventado 

atormenta porque 

o acordamos todo santo dia 

do assombro emergente

de nossas necessidades 

mais profundas 

o propósito se perde

voltamos a mirar o chão 


E as árvores? 

Só tombam com 

um machado ou fenômeno 

não esperado

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