O meu coração palpita, enquanto aspirais de lembranças e pensamentos transpassam minha mente vindo diretamente de uma máquina do tempo. Ora essa, como posso me sentir assim depois de tantos anos?
Seguro com firmeza as linhas que são ligadas aos balões de hélio e não consigo desviar o olhar do que tanto prendeu-me a atenção. É como observar uma verdadeira estrela cadente em noites solitárias, admirável e surpreendente.
— Ei, tio! Me vê um balão aí! — em um súbito susto vejo um garoto parado diante de mim, ele mostra algumas moedas de cinquenta centavos, não o suficiente para o balão.
Vendo-lhe o que desejara, sem mencionar o preço certo, e quando volto a olhar para onde estava observando anteriormente, não está mais lá. Procuro entre a multidão e alguns balões se desprendem da minha mão, voando para o céu límpido e azul. Continuo a correr, e às vezes tropeço em pedras no meio do caminho, como há 62 anos...
Naquela época em que não existia balões em minha mão. Meus pés e chinelos estavam melados de lama até as canelas; sentindo o suor escorrer por todo o corpo, quase sem fôlego, caí bolando ladeira abaixo. Minha mãe ia me matar!
— Já não basta as pernas e agora sua roupa, Zezinho?! — escutei ela reclamar enquanto me dava banho de cuia. — Você anda aprontando demais ultimamente, por que corria tanto? Ah, deixe, não precisa me contar, andava seguindo os caminhões de novo, aposto! E por acaso você é algum cachorro?
Fiquei em silêncio ouvindo seus sermões, quando mencionou que na próxima vez eu iria tomar conta dos meus irmãos, ao invés de ir para o rio com ela lavar roupa (isso significava não brincar e não encontrar pedrinhas estranhas na água).
Nesse mesmo dia, ao entardecer, minha mãe saiu com uma bacia de roupas apoiada em sua cabeça. Disse para não tirar os olhos de Chiquinho e Marieta. Me pendurei na janela, ouvindo a canção que ela cantava enquanto traçava seu caminho para longe.
Vesti meus irmãos, que não paravam de brigar um com o outro, ora Marieta puxando a sua cueca, ora Chiquinho fazendo nós em seu cabelo. Fiz um acordo para que os dois parassem: nós íamos ver o homem do balão, mas ninguém podia contar a mamãe. Toda tarde ele aparecia perto do posto de gasolina, onde estacionavam os caminhões que eu vivia seguindo, e depois que anoitecia, saía de lá para a cidade. O motivo pelo qual íamos lá era as estórias que ele contava sobre seus balões, para onde eles viajavam; gostávamos de ouvir, mas mamãe não aprovava que conversássemos com estranhos.
Um dos caminhoneiros havia dito que ele não tinha aparecido. Cocei a cabeça confuso, quando avistei perto de mim uma garota. Ela carregava consigo um barquinho de papel, aparentava ter a minha idade. Não sorria, apenas observava o que tanto segurava em suas mãos. Meus irmãos também notaram, mas não se importaram tanto, pedindo para ir embora para casa logo. O mesmo caminhoneiro de antes também veio, me dizendo que o pai da menina era um deles e que havia sumido com seu caminhão estrada afora, por isso fazia duas semanas que ela não sorria.
Levei os meninos para casa e peguei todas as minhas bolinhas de gude e a coleção de pedrinhas esquisitas encontradas no rio. Pedi para Marieta e Chiquinho se comportarem ou eu nunca mais os levaria para sair. Torcendo para isso funcionar, corri como nunca até o posto, antes que anoitecesse.
O homem do balão havia aparecido, quis me contar uma das suas estórias, mas acabei não deixando ele continuar. Mostrei tudo o que tinha trazido comigo e perguntei se trocava por um balão. Então me questionou:
— Ora essa, José, nunca se interessaste em comprar nenhum deles, o que há contigo?
Tímido como eu estava, respondi olhando para baixo:
— Queria apenas fazer ela sorrir!
Sem perguntar mais nada, ele me deu dois balões em troca das minhas pedras e me mandou correr, porque a garota já estava indo embora.
Nunca entendi minha fissura por aquela desconhecida, muito menos de onde veio essa vontade de fazê-la sorrir. Mas, só de olhá-la, sentia meu coração palpitar e meus pensamentos se tornarem aspirais, e por esse motivo corri, mesmo com as minhas pernas doendo, mesmo ficando de noite e o aconselhável ser ir para casa antes que minha mãe chegasse, mesmo perdendo minha pequena coleção que consegui com tanto esforço. Mas eu não a alcancei e nem o seu sorriso, ela havia subido em uma carroça e nem olhou para trás, nem sabia quem eu era...
62 anos depois, aqui estou a procurá-la no meio da rua, sobrando apenas dois balões em minha mão, pois deixei escapar quase todos e, mais uma vez, ela estava distante demais para lhe fazer sorrir.
— Senhor, poderia me vender esses últimos balões? — ouço uma voz infantil me chamar. Respirando ofegante, com uma das mãos no joelho, vou levantando a cabeça e vejo uma menininha muito parecida com a que tanto procurei em minha vida toda.
Sorrio e digo que não precisa pagar, ela abre um sorriso de meia lua e sai saltitando com o balão em mãos.
É, mãe... valeu a pena correr tanto durante esses anos e até mesmo levar uma bronca sua naquele dia quando cheguei tarde em casa, completamente arrasado. Lembro muito bem quando me disseste que o amor era algo genuíno, como uma flor desabrochando, ele nos faz sorrir com atos simples. Mesmo que não seja baseado a relacionamentos amorosos, ele vem com intenções puras que levamos para o resto de nossas vidas.
Seguro com firmeza as linhas que são ligadas aos balões de hélio e não consigo desviar o olhar do que tanto prendeu-me a atenção. É como observar uma verdadeira estrela cadente em noites solitárias, admirável e surpreendente.
— Ei, tio! Me vê um balão aí! — em um súbito susto vejo um garoto parado diante de mim, ele mostra algumas moedas de cinquenta centavos, não o suficiente para o balão.
Vendo-lhe o que desejara, sem mencionar o preço certo, e quando volto a olhar para onde estava observando anteriormente, não está mais lá. Procuro entre a multidão e alguns balões se desprendem da minha mão, voando para o céu límpido e azul. Continuo a correr, e às vezes tropeço em pedras no meio do caminho, como há 62 anos...
Naquela época em que não existia balões em minha mão. Meus pés e chinelos estavam melados de lama até as canelas; sentindo o suor escorrer por todo o corpo, quase sem fôlego, caí bolando ladeira abaixo. Minha mãe ia me matar!
— Já não basta as pernas e agora sua roupa, Zezinho?! — escutei ela reclamar enquanto me dava banho de cuia. — Você anda aprontando demais ultimamente, por que corria tanto? Ah, deixe, não precisa me contar, andava seguindo os caminhões de novo, aposto! E por acaso você é algum cachorro?
Fiquei em silêncio ouvindo seus sermões, quando mencionou que na próxima vez eu iria tomar conta dos meus irmãos, ao invés de ir para o rio com ela lavar roupa (isso significava não brincar e não encontrar pedrinhas estranhas na água).
Nesse mesmo dia, ao entardecer, minha mãe saiu com uma bacia de roupas apoiada em sua cabeça. Disse para não tirar os olhos de Chiquinho e Marieta. Me pendurei na janela, ouvindo a canção que ela cantava enquanto traçava seu caminho para longe.
Vesti meus irmãos, que não paravam de brigar um com o outro, ora Marieta puxando a sua cueca, ora Chiquinho fazendo nós em seu cabelo. Fiz um acordo para que os dois parassem: nós íamos ver o homem do balão, mas ninguém podia contar a mamãe. Toda tarde ele aparecia perto do posto de gasolina, onde estacionavam os caminhões que eu vivia seguindo, e depois que anoitecia, saía de lá para a cidade. O motivo pelo qual íamos lá era as estórias que ele contava sobre seus balões, para onde eles viajavam; gostávamos de ouvir, mas mamãe não aprovava que conversássemos com estranhos.
Um dos caminhoneiros havia dito que ele não tinha aparecido. Cocei a cabeça confuso, quando avistei perto de mim uma garota. Ela carregava consigo um barquinho de papel, aparentava ter a minha idade. Não sorria, apenas observava o que tanto segurava em suas mãos. Meus irmãos também notaram, mas não se importaram tanto, pedindo para ir embora para casa logo. O mesmo caminhoneiro de antes também veio, me dizendo que o pai da menina era um deles e que havia sumido com seu caminhão estrada afora, por isso fazia duas semanas que ela não sorria.
Levei os meninos para casa e peguei todas as minhas bolinhas de gude e a coleção de pedrinhas esquisitas encontradas no rio. Pedi para Marieta e Chiquinho se comportarem ou eu nunca mais os levaria para sair. Torcendo para isso funcionar, corri como nunca até o posto, antes que anoitecesse.
O homem do balão havia aparecido, quis me contar uma das suas estórias, mas acabei não deixando ele continuar. Mostrei tudo o que tinha trazido comigo e perguntei se trocava por um balão. Então me questionou:
— Ora essa, José, nunca se interessaste em comprar nenhum deles, o que há contigo?
Tímido como eu estava, respondi olhando para baixo:
— Queria apenas fazer ela sorrir!
Sem perguntar mais nada, ele me deu dois balões em troca das minhas pedras e me mandou correr, porque a garota já estava indo embora.
Nunca entendi minha fissura por aquela desconhecida, muito menos de onde veio essa vontade de fazê-la sorrir. Mas, só de olhá-la, sentia meu coração palpitar e meus pensamentos se tornarem aspirais, e por esse motivo corri, mesmo com as minhas pernas doendo, mesmo ficando de noite e o aconselhável ser ir para casa antes que minha mãe chegasse, mesmo perdendo minha pequena coleção que consegui com tanto esforço. Mas eu não a alcancei e nem o seu sorriso, ela havia subido em uma carroça e nem olhou para trás, nem sabia quem eu era...
62 anos depois, aqui estou a procurá-la no meio da rua, sobrando apenas dois balões em minha mão, pois deixei escapar quase todos e, mais uma vez, ela estava distante demais para lhe fazer sorrir.
— Senhor, poderia me vender esses últimos balões? — ouço uma voz infantil me chamar. Respirando ofegante, com uma das mãos no joelho, vou levantando a cabeça e vejo uma menininha muito parecida com a que tanto procurei em minha vida toda.
Sorrio e digo que não precisa pagar, ela abre um sorriso de meia lua e sai saltitando com o balão em mãos.
É, mãe... valeu a pena correr tanto durante esses anos e até mesmo levar uma bronca sua naquele dia quando cheguei tarde em casa, completamente arrasado. Lembro muito bem quando me disseste que o amor era algo genuíno, como uma flor desabrochando, ele nos faz sorrir com atos simples. Mesmo que não seja baseado a relacionamentos amorosos, ele vem com intenções puras que levamos para o resto de nossas vidas.
é incrível como tu prende a gnt na leitura. não consegui parar de ler ♡
ResponderExcluirEstou muito muito muito feliz por comentar como se sentiu ao ler o conto e principalmente por ter você como leitora no meu blog♥:D
ExcluirParabéns pela historia viciante ❤ minha nova bloguerinha preferida❤ n consegui parar de ler ate o final 😍.
ResponderExcluirGrata *-* ♥ por está lendo aqui! Espero que continue te viciando com o que escrevo ^-^
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