sábado, 14 de outubro de 2023

Uma carta à uma criança chorona


 Eu queria poder abraçar a Iasmim criança, a molequinha que vivia subindo nos muros, árvores, pedras e barreiras de praia porque achava divertido escalar. Que inventava de comer pétala de rosa com açúcar, manga com arisco, carambola. Que fingia que palito de pirulito era cigarro porque via os adultos fumando. Que roubava as plantinhas do jardim de vó para fingir ser comidinha. Que andava de patins e se arrebentava toda, mas levantava e continuava até aprender. Que vivia se acidentado porque se distraía. Que adorava correr da lua e vê que ela continuava seguindo e fazia seu irmão mais novo, Kawã, ficar parado para conferir se era assim mesmo. Que queria seguir Cairon, o irmão mais velho pra todo lugar e que pedia para ele balançar a rede quase até o teto ou pra continuar lendo mais histórias de contos de fadas (bicho papão, a pequena polegar). Que só vivia no hospital por conta dos pulmões. Que era chamada de machinho por andar toda dura e querer brincar de coisas de "menino". Que sofria bullying por ter epilepsia e desenvolveu depressão na época, ao ponto de ouvir vozes e querer se matar. Que prometeu a si mesma ainda pequena que não seria como os adultos chatos que não compreendem as crianças, que as escutam e consideram seus sentimentos. Que treinava para fazer amigos porque tinha dificuldades. Que jogava habbo até de madrugada. Oi, manteiga derretida! Bebê chorão! Hoje fazemos 22 anos e me esforço para cumprir a nossa promessa. Continuo sendo gentil com pessoas que não conheço também. Sua mãe não está mais aqui, sei que chorava no meio da noite com medo de ficar sem ela, não é muito diferente agora... mas você tem muitas pessoas que te amam também! E tem mais de uma família. Desculpe se já te odiei. Superamos. Estamos felizes!


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Essa carta escrevi no dia 28 de Fevereiro de 2023 no meu aniversário. E gostaria de incentivar você a escrever uma para si mesmo também. Todos temos versões nossas que ninguém enxerga mas que guardamos lá no fundo, converse com ela. Essa é a sua parte mais frágil.

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